14 janeiro, 2007

Arrependimento Mata.



- Você viu a nova espécie que veio habitar nosso planeta?

- Sim, eu vi. Achei-os muitos belos!
- Belos? São animais racionais! Vão acabar conosco! Estamos perdidos! Devemos matá-los!
- Não, besteira sua! São bons companheiros e devem ficar.
- É, você tem razão, só pode ser besteira da minha cabeça.

...

Este foi o diálogo do Quagga e do Leão do Cabo, animais hoje extintos, descutindo se matavam ou não Adão e Eva.

Marcos Rodrigues

Imaginem.

Imaginem só:
Se no céu tivesse,
Uma arma enorme
Que nos protegesse

Uma arma humana
Com poderes divinos
Que combateria o mal,
Com seu raio "laser"

Um raio "laser",
Vermelho de cor,
De espírito negro
E intenções azuis.

E se do céu viessem,
Homens com asas,
Mudos de fala
E de cabeças douradas.

E esta arma,
Pré-programada,
Destruíriam-lhes
Sem perguntar nada.

E se do chão viessem,
Homem belos, de olhos azuis,
De braços abertos
Aguardando o tiro.

E esta arma,
Miraria ao chão,
Destruíndo o mundo
E o Diabo não.

Marcos Rodrigues

12 janeiro, 2007

A Face da Guerra



Salvador Dali

Retratos da Crueldade Humana.

Só os divinos são divinos,
Não importam as importâncias,
Só o que basta é a relevância
E a mensagem de esperança.

Perdoais os seus pecados,
A guerra tem seus valores,
Que os menos afortunados
Reconhecem com suas dores.

"Não há mais nenhum caminho",
Reconhecem os generais.
Só o que resta ao vizinho
É explodir os seus rivais.

É uma guerra atrás da outra,
Morte atrás de morte.
Se fugires, concideram-te contra.
Viver é estar com sorte.

(inspirado na pintura "A Face da Guerra" de "Salvador Dali", acima postada.)

Marcos Rodrigues

O Assinalado

Tu és o Louco da imortal loucura,
O louco da loucura mais suprema.
A terra é sempre a tua negra algema,
Prende-te nela a extrema Desventura.

Mas essa mesma algema de amargura,
Mas essa mesma Desventura extrema
Faz que tu'alma suplicando gema
E rebente em estrelas de ternura.

Tu és o Poeta, o grande Assinalado
Que povoas o mundo despovoado,
De belezas eternas, pouco a pouco.

Na Natureza prodigiosa e rica
Toda a audácia dos nervos justifica
Os teus espasmos imortais de louco!

Cruz e Souza

11 janeiro, 2007

Ser

Um ser moribundo caminha entre nós,
Com olhar desatento, desconhece seu fim.
Come carne sangrenta, vê somente os prós.
Hiena risonha, sempre perto de mim.

Ser sem coragem, nunca fica à sós,
Aparência decente, nunca vimos assim.
Engana os pobres, disfarçando sua voz,
Pisa em cima dos vermes e a tudo diz sim

E ao sinal de uma alarme, foge logo pra´lcova
Esperando que o mal, logo por si se dissolva.
Vaga sempre atento, esperando uma ordem

Sinistro é sua face, quando veste sua roupa
Confiante que assim todos lhe paguem
Uns lhe chamam de verme, outros chamam-lhe homem.

Marcos Rodrigues

Bela Cruz

Que caia a bela Ninfa sobre vosso peito,
Onde já não possa ter mais respeito.
Próximo ao respaldo, sagrado manto,
Derrames teu sangue sobre Teu pranto.

Que um belo dia será desfeito
E grandes versos serão colheitos,
Para guardarem em póstumos cantos,
Que jamais terão o Vosso encanto.

Sejais assim contentemente,
Que aprenderás a caminhar sozinho
E voarás como uma Ave infante

Que derrota todos os errantes
E marcha alegre ao ninho,
Para beber do líquido amargo e quente.

Marcos Rodrigues

A Máscara

Eu sei que há muito pranto na existência,
Dores que ferem corações de pedra,
E onde a vida borbulha e o sangue medra,
Aí existe a mágoa em sua essência.

No delírio, porém, da febre ardente
Da ventura fugaz e transitória
O peito rompe a capa tormentória
Para sorrindo palpitar contente.

Assim a turba inconsciente passa,
Muitos que esgotam do prazer a taça
Sentem no peito a dor indefinida.

E entre a mágoa que masc’ra eterna apouca
A humanidade ri-se e ri-se louca
No carnaval intérmino da vida.

Augusto dos Anjos

09 janeiro, 2007

Você me Mata e Morre.

Vedes que na Lua a água ainda habita
Correndo por entre frechas lentamente
Matagal terreno, flerta com ventos matutinos
Entre noites e dias, toques molhados num ápice lunar
Meça as gotas de leite derramadas na galáxia carnal
Antes mesmo do toque molhado a Lua deleita-se com puros-sujos pensamentos
Tentação divina maravilhosa, atos profanos e promiscuos
Astros brancos buscando o óvulo lunar
Escalando a parede do desejo
Menstruando-se em meio ao divino gozo
Ontem, hoje... então somente hoje
Recarregam energias junto à câmara de gás
Rezam, agradecem a si mesmos e...
Esticados no deleite da madrugada conhecem a ira dos aneis do Deus lunar. Sofrem, morrem, padecem e entào somente um se torna Hércules, O Grande.

Marcos Rodrigues

O Tejo é mais belo...

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.

O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

Alberto Caeiro

Poesia do Retorno.

Como uma fênix,
Que nunca morreu,
Retorna e faça-te mais forte...
Do que o ventre que lhe concebeu.

Como um anjo,
Que nunca caiu,
Não caia e aprenda a voar...
Se puderes, mais alto que o céu.

E quando a dança chegar à vossa face,
Diga não! Não se entregue a tais condições.
Pois a morte é sonho dos fracos

Morrer é ceder, é ceder a foice,
Acordar ao lado dos cães.
Pois morrer é estar sempre acordado.

Marcos Rodrigues